2005-09-04

A Terceira Via

Contestada internamente por muitos clubes de esquerda, é um marco presente de como a social-democracia evoluiu, no seu pensamento contemporâneo. É uma nova - se comparada com o socialismo - corrente, internacionalmente representada pelo Prime Minister Tony Blair, do Labour Party, e alcança inegavelmente o centro político de grande parte da sociedade europeia, mais moderada.

Isto porque consegue pôr de acordo, com vista a alcançar uma meta comum, uma vida melhor para cada um de nós, as duas correntes seculares, o capitalismo e o socialismo. Em Portugal, diria-se que ela foi introduzida timidamente no governo de António Guterres - a paixão pela educação. Contudo, não conseguiu impôr as reformas que, do ponto de vista da terceira via, eram muito necessárias para melhorar o capital social, ponto fulcral da orientação política da terceira via.

Reformas essas, na educação, que o foram, anteriormente, efectuadas pelo governo irlandês, e que ao qual produziu excelentes resultados. Note-se que a Irlanda é um país que vale a pena comparar com Portugal, em termos de dimensões e população, além da sua presente assimetria regional e carácter atlantista forte, com ligações aos Estados-Unidos da América.

Não defendendo que só por si, reformar a educação leve a uma garantida melhoria, o aumento do conhecimento global na sociedade portuguesa é fundamental, especialmente num país onde a iliteracia têm representação. Preenchendo estas pequenas brechas, será possível modernizar o funcionamento do estado, onde a sociedade toma maior participação, somente por estar informada e querer saber mais. Com esta participação, dar-se-á um maior investimento privado em áreas anteriormente consignadas exclusivamente ao estado.

Pode-se resumir que na terceira via - embora vá fortemente contra a doutrina do socialismo - o estado toma essencialmente um papel regulador, com autoridade inquestionável. A justiça, o controle das obrigações - sociais - das sociedades anónimas, a segurança, a protecção social, ficarão reforçadas. Contudo, muito se discute actualmente se as zonas cinzentas devem continuar a ser reguladas ou liberalizadas.

A educação superior e a saúde, por exemplo, podem vir a ficar sob controle de grupos económicos. Estas áreas são de especial importância estratégica, porque têm uma relação efectiva de como a sociedade portuguesa vive e progride. Sem um sistema de educação que nos obrigue a ir mais além, ficaremos condenados à mediocricidade. Sem um sistema de saúde abrangente, deixa de fazer sentido apoiar um estado que se desresponsabilizou pela vida dos seus cidadãos.

Uma sociedade pode ser capitalista, como os E.U.A. ou a Suécia, mas completamente, não. O Estado é o Estado por alguma razão, e ele deve ser o primado da intervenção e reforma social. É impossível uma sociedade ser completamente liberal, obedecendo às leis de mercado, e onde o estado têm uma representação mínima. Tal espectro é por norma, anti-civilizacional e conducente à ruptura dos normais padrões sociais e humanos.

Temos visto, ultimamente, que a política é o motor do governo. Ele move-se por objectivos eleitorais, pelo que disse que disse nas eleições. Porquê? A política não é criada para atender aos processos sociais, ao que a sociedade precisa, mas para fazer face aos resultados, os melhores que possam ser alcançados. E a continuação da política, da terceira via ou de outras vias, depende muito do que se conseguiu alcançar e qual o rumo que se pretende tomar.

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