2008-01-15

Retratos de Portugal

BCP versus PPD/PSD

Carlos Ferreira ganhou a liderança do BCP. Acho que foi uma boa escolha por parte dos accionistas. Esta é uma matéria que só a eles lhes diz respeito. Mas nem tudo correu bem.

Num processo que tomou contornos políticos, tivemos pela primeira vez um líder do PSD a meter cunhas em público para favorecer militantes ou simpatizantes do PSD para o BCP, apoiando a lista de Cadilhe e restantes reformados para tutelar o maior banco privado de Portugal. Ainda bem que foi derrotado senão tinhamos um lar de terceira idade num banco que necessita de discrição e de uma gestão de alto nível.

Claramente, o poder político deve ser independente do económico, e vice-versa. Não é visto com bons olhos, em países desenvolvidos e capitalistas, a interferência de partidos políticos na gestão interna de empresas privadas. Mas não é a primeira vez que isto acontece.

A Somague financiou o PSD - caso das facturas - e esta empresa é accionista da LusoPonte, ao qual é presidida por Ferreira do Amaral, antigo ministro das obras públicas pelo PSD e que concessionou - beneficiou - a LusoPonte com um contrato milionário. Favores com favores se pagam. Isto dava um belo caso de polícia, se houvessem leis que proibissem ministros de assumirem cargos sociais em empresas envolvidas em contratos com o seu ministério. Mas o PSD não está para aí virado.

Não me revejo no PPD/PSD de luis filipe menezes. Já começaram a surgir declarações de outros sociais-democratas, descontentes com o nível e a baixaria que menezes começou a impôr no partido. Este já anda muito preocupado e quer silenciar a oposição. Desde a reacção excessiva do seu presidente de mesa acerca de um inocente almoço até à declaração do pitbull preferido de menezes, "quem quer ser deputado do PSD" nas próximas eleições. Não conseguirão. Vamos ver se menezes se aguenta em mais 100 dias na liderança. Eu cá acho que não.



Ota versus Alcochete

"É a diferença entre democracias longamente amadurecidas, que vêem na estrita observância do princípio da transparência a melhor garantia de qualidade da sua vida pública, e democracias recentes, como a nossa, que não só toleram como premeiam a promiscuidade opaca da política e dos interesses económicos, sendo poucos os que verdadeiramente se incomodam com isso."

Quanto ao novo aeroporto, recomendo a leitura do "dossier Cravinho". O PSD nunca propôs em 2002, 2003 ou 2004, outro aeroporto que não a Ota, concorrendo até a subsídios europeus. Só recentemente, após intensiva oposição por parte de vários sectores da sociedade civil, a quem fica bem a denominação "lobbie", é que o PSD inverteu a sua posição política, sendo favorável a uma localização na margem sul. Pode-se concluir que um partido político na oposição é mais permeável à mudança de posição, para o lado mais favorável do vento. E de que lado sopra o vento?

No dossier Cravinho não se refere directamente ao investimento do Grupo Espírito Santo, o Portucale - Ribagolfe. Fica mesmo ao lado do Campo de Tiro de Alcochete.

Também não refere a Herdade da Comporta, o TroiaResort, entre outros também em Grândola e que ficam a ganhar com a proximidade do centro aeroportuário. Também não referiu os projectos urbanísticos na península de Setúbal, no Vale da Rosa, ou em Pinhal Novo, prontos a criar moradias para mais umas centenas de milhares de portugueses.

Se fosse na Ota, esses desenvolvimentos seriam muito limitados devido à ocupação presente do território. Em Alcochete, não há problemas, há bastante espaço para a indústria do imobiliário, a actividade que mais dá dinheiro a ganhar e que menos contribui para o progresso nacional. A decisão pró-C.T.A. foi uma clara cedência a estes interesses e aos lobbies que os promovem. Estes só os promovem porque têm cobertura há décadas por parte do Estado. E os erros pagar-se-ão caro a longo prazo.