2008-03-05

TTT

Depois do debate da terceira travessia do Tejo, organizado pela CPD de Lisboa, fiquei muito mais esclarecido. Basicamente, estão a arranjar mais uma maneira de nos irem ao bolso.

Porque é que querem fazer uma nova ponte? Devido ao TGV. E porque é que o TGV têm que ir até Lisboa? Porque esta é a capital do país (pffff!). E como o TGV está indicado para unir as principais capitais da Europa, lá terá que ser. Também é um desígnio político. Fica bem à máfia apanhar um TGV e 4 horas mais tarde ir almoçar à Moncloa ou a Madrid, ou ir passear pelo Escorial.

Também é uma oportunidade de renovar o tecido urbano na zona este de Lisboa, amplamente degradado e em termos de especulação imobiliária, muito pouco explorado.

Depois de auscultar as propostas debatidas, aquela que mais senso tinha era do Francisco Ferreira (o tipo com óculos, da Quercus, um porreiraço, pá). Não fazer mais pontes, aumentar a utilização dos transportes públicos rodo-ferroviários, expandir o Metro Sul do Tejo, por exemplo.

Do outro lado da barricada, tinhamos os consultores de transportes. Fiquei com a impressão que estes últimos estavam a defender obras públicas para justamente terem mais uma oportunidade de ganhar bastante dinheiro, com projectos de consultoria e estudos.

Existem vantagens e desvantagens entre as duas opções em discussão, Chelas-Barrreiro e Bispo - Montijo. Esta última desagrada-me por entrar na área militar da base aérea do Montijo. Estou surpreendido com as afirmações da TIS, como que esta proposta não interfere com a BA6. Uma nova rodovia passa por terrenos da base militar junto às pistas e não "chateia" as operações aéreas? Devem estar a brincar.

Poderiam ter feito a ponte directamente entre Barreiro e o fim da circular de Montijo, um dos terminos da futura CRIPS, para evitar a base aérea. Mas fizeram-na mesmo entre o nó da ponte Vasco da Gama e a cidade de Barreiro. Se a BA6 tivesse que sair dali, eram mais terrenos para prédios de habitação, uma marina, etc, etc.

As objecções à ponte Chelas-Barreiro foram desonestas. Isto se compararmos com o que é preciso fazer com a proposta da TIS. É provocador defender que a Chelas-Barreiro é uma má opção porque a população do Barreiro está em decrescimento, quando se sabe que a construção da ponte Vasco da Gama melhorou as acessibilidades do Montijo e como tal, todo o eixo Montijo-PinhalNovo-Setúbal sofreu um aumento populacional. Aumenta-se as acessibilidades, aumenta-se a atractividade do local.

Tentar legitimar a opção deles, socorrendo-se de um menor impacto urbanístico, com a opção deles, é de uma desfaçatez... Então Montijo-Poço do Bispo também não têm impactos urbanísticos na zona de Lisboa? Além de requerer novas pontes a unir Barreiro/Montijo?

A proposta da TIS é um exercício intelectual desprovido de concretização real. Porque raio é que querem fazer mais e mais pontes? Porque dá mais dinheiro! Simples.

É de uma terrível miopia esquecerem por completo a opção de instalar o TGV no tabuleiro da Ponte Vasco da Gama. Mesmo que se necessite de expandir e reforçar o tabuleiro, além de construir um ponto de entrada e saída na margem do Montijo e de Lisboa para responder às características do transporte de TGV ou de Mercadorias, esta à partida apresenta-se como a solução mais económica, podendo vir a se instalar a estação de TGV na zona do RALIS em Lisboa.

Nunca pensaram nisto porque a orientação política até agora têm sido o de construir a TTT a partir do Barreiro. Se puseram o comboio na Ponte 25 de Abril, porque não fazer o mesmo na Ponte Vasco da Gama?

Se aumentarmos as ligações entre as margens de Lisboa e Península de Setúbal, estaremos a promover o crescimento do sector imobiliário e as deslocações pendulares. A via a seguir é o de diminuir este tipo de migrações diárias, especialmente com o elevado custo do transporte pessoal hoje em dia. Isso só se consegue com a restrição à sua utilização e à instalação de indústria ou serviços na margem a Sul do Tejo para melhorar a oferta de emprego nesta zona, tornando a zona AMLisboa "independente" da zona AMSetúbal.