2008-04-21

Crónicas do PSD

Quem não gosta de críticas ao partido, não leia este "post". Vai-lhe trazer muitos amargos de boca.

Clarificação precisa-se
A questão que eu me coloco é simplesmente esta: será o PSD um partido social-democrata?
Não. Resulta de uma amálgama de correntes representativas de grupos com visões diferentes entre eles das políticas a defender na governação de Portugal. O facto de se chamar Partido Social-Democrata é enganador. A sua prática política é mais orientada à liberalização progressiva, diminuição das despesas do Estado com a "emancipação" de responsabilidades sociais, pondo em risco o ideal social-democrata, o "Estado Social".

Vivendo uma grande mentira
Não acredito que o actual PSD consiga alterar a sua linha programática, virando à esquerda. O caminho cada vez mais nítido, por mais que as novas direcções do partido o tentem esconder, é o ataque ao Estado Social, conversão de parcerias público-privadas em entidades autónomas com capital privado e progressiva redução de impostos para os Portugueses. É liminarmente impossível tentar garantir maior protecção social, ou um serviço à altura dos países verdadeiramente "social-democratas", com uma baixa de impostos, redução de capacidade de serviços públicos e sua deslocação para o sector privado. Portugal ocupa a meia-tabela em termos de peso dos impostos no orçamento familiar, entre o México e a Finlândia. Não se fazem omeletes sem ovos.

Que elites ditam o futuro do PSD?
Existe um cancro dentro do PSD e que vai acabar por ser o responsável pela sua transformação num partido liberal. Esta têm sido a corrente defendida pela ala intelectual barrosista, com vista a permitir o enriquecimento rápido da sociedade portuguesa. Isso resultaria numa sociedade anglo-saxónica (UK, USA, Austrália), mas por cá, não acredito. Isto porque o nosso mercado não têm dimensão suficiente e a existência de grandes empresas acabam por impôr um modelo corporativo que atrasa o desenvolvimento social generalizado.

Onde entram as bases do PSD?
Não entram na definição do rumo a seguir pelo PSD. Mas entram, pagando quotas e quando este ganha eleições, na sua nomeação para o desempenho de cargos públicos na junta, na autarquia, no Estado, em serviços administrativos ou executivos de empresas públicas. É a fonte mais provável de recursos humanos. Não há ninguém no PSD que esteja lá por convicção ideológica, e se houver, são poucos. Exemplo disso é a postura "carreirista" de muitos que se auto-silenciam de maneira a que não sejam vistos como "demasiado radicais", "instáveis", "politicamente incorrectos". Há muita cobardia à solta dentro do PSD. Se houvessem mais "Rui Rio"´s, o PSD seria um partido exemplar, credível, em que ostentar o cartão de militante do PSD seria motivo de orgulho e não de chacota. Porque são exactamente as bases, nas Secções, e que elegem as Distritais, que fecham os olhos aos casos de corrupção, abuso de poder, crimes económicos, sem a mínima preocupação em "limpar o bom-nome do Partido".

O PSD é um partido?
Quando Pacheco afirma que a ideologia, a esquerda e a direita, são "coisas do passado", reflecte a rendição ao pragmatismo e ausência de políticas bem definidas pelo próprio partido. Se definirmos um partido como um grupo de pessoas que se associaram com vista a implementar um projecto político para Portugal com teor nacional, o PSD falha - por pouco - esta definição. O que se pode enquadrar o PSD é num partido-programa, qual agenda que o eleitor folheia e se entretém, imaginando a estabilidade e o futuro risonho que o partido-empresa lhe promete. É mais acertado chamar-lhe o partido das empresas (da Somague, da Etermar, da Lusoponte), dos empresários, dos empreendedores (o que até é positivo), do que propriamente um partido social-democrata.