2008-04-28

Manuela volta a encher sede do PSD

Manuela Ferreira Leite garantiu que a sua campanha não será uma campanha de espectáculo, que diz não saber fazer, mas foi num clima quase de comício que a sua candidatura foi anunciada na sede nacional do partido. Depois de um primeiro discurso numa sala a abarrotar de militantes, Ferreira Leite fez um "bis", de microfone na mão, no alto das escadarias do edifício para o pátio de entrada da sede onde largas dezenas de militantes sociais-democratas, que não chegaram a entrar, esperaram para ouvir.

"Isto foi uma encenação enorme", comentava um jovem do partido reconhecendo, no entanto, que a capacidade de mobilização voltou a tocar no PSD. Depois de um longo jejum de encontros vitoriosos, que, nos últimos tempos, deixou a sede do partido às moscas, o anúncio da candidatura da ex-ministra das Finanças conseguiu, com mais ou menos produção, ensaiar o regresso aos grandes momentos.

Pôr fim "à desistência e conformismo" e recuperar "o crédito do PSD junto da opinião pública", foram, aliás, as duas principais razões invocadas pela candidata para se disponibilizar para este combate.

"Estou aqui a pedir o vosso apoio, não por uma ambição de poder ou de vaidade pessoal, mas por um sentido de responsabilidade face ao meu país e ao meu partido", afirmou Ferreira Leite, garantindo que "esta foi, talvez, a decisão política mais difícil" que tomou até hoje.

Num discurso exclusivamente virado para os militantes de base que a candidata sabe não ser fácil congregar numa corrida disputada a cinco, Ferreira Leite mostrou-se "muito incomodada com a falta de respeito com que começam a tratar-nos" e mostrou-se disposta a pôr termo "às manifestações de autoritarismo e intimidação que o PS vem crescentemente revelando". Alertando que tal só é possível porque o PSD não tem tido força nem credibilidade a ex-ministra anunciou que "a palavra essencial" que diz ser para deixar ao partido é de "estímulo e confiança quanto ao futuro". "Quero um partido forte, capaz de oferecer aos portugueses políticas diferentes, credíveis e sólidas, em relação as que o governo socialista mostra ser incapaz de conceber e executar" acrescentou avisando os militantes sociais-democratas de que "o resultados destas eleições é decisivo para o nosso futuro".

Numa nota de dramatização do que está em causa, mais virada para os homens que defendem o partido no terreno, Ferreira Leite lembrou que "um maior descrédito nas eleições legislativas poderá ter um efeito contágio nas eleições autárquicas". Dirigindo-se sobretudo aos militantes de base que são quem vai escolher, directamente, o próximo líder do PSD, a candidata tentou jogar no afecto: " Sei que os militantes me conhecem, quer através da minha vida pública, quer através dos contactos que sempre convosco mantive".

Além das dezenas de militantes anónimos que responderam à chamada - alguns confessando ter recebido dois e três telefonemas para estarem presentes -, compareceram na sede social-democrata muitos dos rostos que se mantiveram afastados durante a liderança de Luís Filipe Menezes. Leonor Beleza, Alexandre Relvas, Rui Rio, José Luís Arnaut, António Borges, António Capucho, José Pedro Aguiar Branco, Nuno Morais Sarmento e Pacheco Pereira são apenas algumas das referências do PSD que quiseram associar-se ao momento. Paulo Mota Pinto, filho do ex-líder do partido, Carlos Mota Pinto, e Santos Silva, cunhado de Cavaco Silva, também marcaram presença.

António Preto, ex-presidente do PSD/Lisboa e homem com grande influência junto do aparelho e dos militantes de base na capital, era um dos mais entusiastas animadores deste regresso ao clima de confiança que, pelo menos por esta tarde, voltou ao Palácio de São Caetano à Lapa.