Dar o braço a torcer é sempre a última alternativa.
Se possível, empregar a decepção para salvar as aparências.
Luís Leite Pinto volta a dar a opinião dele no Expresso sobre a Ota e Alcochete. É claro que a sua posição é contra a Ota e a favor de qualquer outra. Tudo menos a Ota. Estranho agora o seu silêncio em relação a Poceirão, indicado como uma opção pior que a Ota no estudo da IDAD/TIS feito para a CIP (ou para o Francisco Van Zeller, segundo outras versões).
Gostei mais deste artigo do que do outro. Especialmente do carácter abonatório que referiu ao LNEC - entidade pública reconhecida internacionalmente pela sua excelência técnica e que ganhou recentemente um concurso internacional de consultoria para a construção de três barragens, lá fora, claro está. Idoneidade não lhe falta. Muito menos independência, já que os seus relatórios técnicos são e vão ser tornados públicos.
Tomei em especial atenção o facto de ele ter referido o preço de construção do NAL - 1.8 mil milhões. E eu que pensava que eram 3.2 mil milhões. Não foi ele que o disse anteriormente? Afinal, aonde foi parar o resto? Só se fôr para a construção de acessibilidades... e pergunto eu, em Alcochete, não acabará por ser mais?
Águia de Asa Redonda, nidificante no CTA. O Luís Leite Pinto toma uma atitude facciosa em relação à Ota no seu artigo e faz-me levar a ter que o corrigir em dois pontos, para já. É necessário ser rigoroso quando se argumenta para não deixar que a mentira corrompa a verdade. Especialmente para um engenheiro. Portanto, vamos a isso...
"A Ota não admite expansão ou faseamento".
Afirmação falsa, já que os novos planos para a construção do Aeroporto prevêem a construção faseada do aeroporto, a entrar em funcionamento dentro de 10 anos. Nesta altura, será imperioso que seja uma infra-estrutura com 2 pistas paralelas para a desactivação da Portela.
A Ota permite a expansão de pistas e de infra-estruturas para terrenos mais a Norte, até Alcoentre. Toda esta zona é constituída por eucaliptos e a sua ocupação teria um impacte ambiental significativo, mas tolerável.
Portanto, o argumento de que é útil ser uma opção modular, com 1 e 2 pistas, cai por terra. Excepto se se preferir que a Portela continue a funcionar, o que é economicamente inviável para o cenário Português. Viável em Londres e Paris, por cá, não. Por isso, a opção Portela+1 foi retirada do rol de opções do estudo.
"A Ota sofre do mesmos problema de aquífero que Alcochete ou outras da Margem Sul".
Afirmação falsa. Não sei aonde é que ele foi buscar esta ideia. Devia ficar bem no artigo. Deve ter sido por causa disso. Os estudos hidrológicos subterrâneos da zona da Ota permitem concluir que há 3 aquíferos na zona:
1. O aquífero cársico da Ota-Alenquer, fora da zona de influência ou de expansão do aeroporto da Ota e separado pelas "margens da abadia", pouco permeáveis ou mesmo impermeáveis. Mesmo sendo de vulnerabilidade alta, não são esperados impactes significativos, embora isso não descure medidas de protecção na construção e manutenção da infra-estrutura. É recarregado na Serra de Montejunto.
2. O sistema aquífero multi-camada ligado à Bacia do Tejo, sob a localização do novo aeroporto, com pouca produtividade, má qualidade da água, com dados a indicar que a sua recarga não é afectada a partir de águas de escorrência superficial, facto importante para evitar a sua contaminação por potenciais locais de poluição resultante da instalação de infra-estruturas. Têm características muito diferentes daquele explorado pela EPAL, mais a Este.
3. Aquífero poroso, associado ao Rio Tejo, com produtividade (caudal de água na captação) pobre e qualidade da água baixa na zona do Cadaval a sul da Ota, sendo a água de consumo humano redireccionada de outros locais.
Gineta no CTA.
Em comparação, os estudos hidrológicos subterrâneos feitos para Rio Frio atestam a susceptibilidade alta a extremamente alta do aquífero multi-camada, onde a própria extracção de água para o abastecimento de uma infra-estrutura aeroportuária irá desencadear contaminações de aquífero de camadas mais profundas por outro aquífero de camada mais superficial e com pouca qualidade da água.
Por ter uma geomorfologia propícia à dispersão de contaminantes, a eventual contaminação do aquífero não ficaria localizada a uma zona específica, afectando predominantemente os pontos de captação de água de NE para SW, em direcção a Seixal, Barreiro, Almada, Montijo, pondo em risco a saúde destas populações [ver exemplos ocorridos nos USofA aqui]. Mais, a sua recarga é essencialmente por infiltração directa das precipitações (chuva, à superfície) com entrada no sistema em toda a área da bacia. O que dificulta a contenção de impactos ambientais decorridos da operação de uma infra-estrutura aeroportuária nessa zona. É claro que a sua futura expansão aumentaria em muito o impacte ambiental na zona.
Citando o relatório da NAER:
Em Rio Frio o sistema aquífero é considerado de vulnerabilidade alta a extremamente alta, o que impõe regras bastantes rígidas no regime de exploração de modo a não provocar desequilíbrios no sistema aquífero. Este risco advém das suas características hidrogeológicas (sistema multicamada) em que uma exploração intensiva poderá induzir contaminação do aquífero profundo a partir dos níveis superficiais e em caso limite pode levar ao exauramento com eventuais subsidências localizadas. E aonde é que isto nos leva?
Ora, face a estes dados, se os técnicos do LNEC se depararem com idênticas circunstâncias no Campo de Tiro de Alcochete, gerido pela Força Aérea Portuguesa e que ganhou há pouco tempo um prémio por preservar a sua área de elevado valor ambiental, vamos ter esta localização chumbada por factores ambientais. Razão pela qual o governo ainda não mandou suspender os estudos de construção de acessibilidades e infra-estruturas de suporte ao novo aeroporto de Lisboa, na Ota. Raposa no CTA. Pelas suas características, o CTA tem-se revelado como que uma extensão da Reserva Natural do Estuário do Tejo, nomeadamente no que às aves diz respeito, facto que atesta que é possível a coexistência entre a missão da Unidade, a preservação da Natureza e a protecção do Ambiente.
O que me chateia é que, regra geral, as pessoas que têm uma opinião contra a Ota são capazes de esgrimir argumentos desfavoráveis de tipo ambiental em relação à Ota, e não os aplicam em relação às outras opções, desconsiderando o património ambiental no C.T.Alcochete, por exemplo. Revela desonestidade e falta de racionalidade. Ou então, pura ignorância. Assim, é impossível comparar as opções e chegar a uma decisão acertada.
A Análise de Benefícios e Custos, que têm sido referenciada na comunicação social, foi criada há cerca de 150 anos pelo engenheiro francês Jules Dupuit e é orientada para a tomada de decisões de projectos transversais à Sociedade como são os transportes e saúde pública e que afectam em grande parte a política ambiental.
Por exemplo, têm sido referido o benefício de termos terrenos do Estado disponíveis a custo zero para a construção no Campo de Tiro de Alcochete. Não se refere como é que se resolve depois o problema de ficarmos sem a única carreira de tiro em Portugal e de tornarmos aquela zona toda, um refúgio ambiental, numa cidade aeroportuária.
O que me leva à questão dos custos associados à desactivação e deslocalização do Campo de Tiro de Alcochete e, talvez, por excessiva proximidade, a Base Aérea do Montijo, sem falar do custo ambiental - demasiadas vezes ignorado - gerado pela destruição do habitat. E estes, também não entram em consideração ou já não convém que o público esteja informado desses custos? Tentar secundarizar estes aspectos é uma sacanice. Na minha opinião. Nota à parte:
Congratulo-me com o recuo [temporário, espero eu] do ministro Mário Lino a respeito da Ota. A situação já começava a descambar, e um projecto nacional destes dá-se mal com atitudes que mais parecem birras. Enfim...
O Sol têm enveredado por uma linha editorial contra a Ota que se tornou populista, a fazer lembrar "O Independente". Há já algum tempo que deixei de comprar este semanário, por achar que lhe falta rigor suficiente. Para mim têm sido claro a sua falta de objectividade. Um exemplo disso é a grelha de comparação entre Ota e Alcochete na página 9.