2007-06-04

Londres e Lisboa

Londres e Lisboa. Duas cidades, dois mundos diferentes. Os seus acessos e aeroportos reflectem a sua colocação na hierarquia das cidades num mundo global.

Têm-se discutido muito acerca de qual o melhor local para construir um aeroporto, como se daí se gerasse uma enorme riqueza para a região. Acho essa ideia um bocado descabida. Primeiro, porque os aeroportos são fruto de uma necessidade criada. São precisos para a prestação de um serviço. Permitem uma maior mobilidade a pessoas e carga valiosa. E essa necessidade não aparece só porque surge uma nova infraestrutura aeroportuária. O tecido produtivo envolvente é que é o responsável pelo desenvolvimento local e regional. São as indústrias, recursos humanos qualificados, empresas de ramo terciário ou de alto valor acrescentado, como as de base tecnológica, que ditam as regras.

Neste post, comparo duas localizações, Londres e Lisboa. Distâncias são em milhas em linha recta a partir do centro da cidade e as distâncias por via rodoviária e por quilómetro são maiores.


Londres têm 3 aeroportos para uso de aviação geral/executiva/militar, limitados pelas suas pistas de reduzida a média dimensão - Northolt (12 milhas do centro de Londres), Biggin Hill (15 milhas) e London City (8 milhas) e todos com tráfego reduzido.

Na sua periferia, temos Heathrow (15 milhas), Gatwick (25 milhas), Luton (27 milhas), Stansted (31 milhas), Southend (37 milhas) abertos à aviação civil comercial de linha aérea, aviação
low cost e aviação geral, com pistas de média a grande dimensão, com destaque para o aeroporto de Heathrow que têm duas pistas paralelas para operação simultânea. Para estes aeroportos, realço que a distância mínima entre eles são de 40 milhas entre Heathrow e Stansted, e de 25 milhas entre Heathrow e Gatwick, sendo estes 3 os aeroportos com maior tráfego de passageiros na área de Londres.

Há outros a norte mas são de reduzida dimensão, com pistas muito curtas, de relva ou asfalto de baixa densidade para aviação civil "leve", e alguns estão desactivados ou encerrados para obras.


Em Lisboa, temos a Portela (4 milhas do centro de Lisboa) e alguns aeródromos/bases aéreas ao redor. A Portela é a que recebe, com as suas pistas cruzadas de dimensão média e grande, todo o tráfego aéreo comercial internacional e
low cost, com alguns vôos executivos/regionais/VIP.

Sintra (14 milhas) e Montijo (5 milhas) são duas bases aéreas com pistas médias sem o movimento que caracteriza o
hub da Portela. Alverca (13 milhas) é um aeródromo de manutenção onde estão as fábricas da OGMA e o restante cluster aeronáutico. Em Cascais, temos o aeródromo civil de Tires (12 milhas) que é para a aviação civil geral/treino de pilotagem/executiva.

Foram propostas outras localizações, como o C.T.Alcochete (14 milhas), único no país e utilizado como local de treino para o Exército e F.A.P. e com uma pequena pista de aviação mais para o interior (18 milhas). Ou Rio Frio (15 milhas), Faias (21 milhas) ou Poceirão (22 mihas).
A Ota (27 milhas) foi uma importante base aérea da FAP mas a pista encontra-se desactivada e é utilizada como centro de formação técnica da F.A.P. .

O que grande parte dos políticos candidatos à CML têm dito recentemente à comunicação social é que a Portela pode continuar a funcionar, e que é possível uma solução complementar, utilizando as infraestruturas aeroportuárias ao redor. Esta informação é falsa e desprovida de qualquer sustentabilidade técnica.

É perigoso coordenar tanto tráfego aéreo para dois aeroportos internacionais a tão curta distância e há sempre a necessidade de respeitar um espaçamento mínimo entre aeronaves na sua aproximação [ver explicação nos comentários], o que afecta a eficiência do sistema proposto, mais concretamente na interferência das rotas de aproximação e descolagem em simultâneo, com distâncias curtas como por exemplo Portela-Montijo (7 milhas),
Portela-Alverca (9 milhas), Portela-Sintra (11 milhas) ou Portela-Tires (12 milhas) a dificultar e a prejudicar a coordenação da operação simultânea de dois aeroportos relativamente perto um do outro.

É importante realçar que as restantes infraestruturas aeroportuárias existentes ao redor não têm condições para receber este tipo e quantidade de tráfego aéreo [ver explicação nos comentários], exemplificando como sempre a atitude irresponsável e incompetente dos nossos políticos, que prometem o que claramente não podem cumprir.

A Ota está a uma distância da Portela de 23 milhas, quase a mesma entre Heathrow e Gatwick, mas a diferença é que as rotas de aproximação e de partida Ota-Portela interferem uma com a outra, o que prejudica a eficiência e segurança do sistema.

Alcochete, Rio Frio, Poceirão e Faias não sofrem [muito] desse problema, mas afectariam a operação do C.T. Alcochete e Base Aérea do Montijo, futuro pólo logístico de transporte da F.A.P., além do crime ambiental que se cometeria na sua construção e futura expansão do aeroporto na margem sul [contaminação do maior aquífero da Península Ibérica e abate de centenas de milhar de sobreiros].

Quase todos os políticos estão tão preocupados em defender a Portela, argumentando que com a sua saída em 2017, Lisboa fica prejudicada, que nem reparam que grande parte dos lisboetas que votam não precisam de um aeroporto internacional dentro da cidade.

Porque é que então os lisboetas devem continuar a aturar os vôos a baixa altitude das aeronaves em aproximação à Portela? Só porque dá mais jeito ao Turismo de Lisboa? Mas está tudo parvo ou quê???

9 comentários:

Anónimo disse...

Ola

foi boa a comparação com Londres, para justificar que aeroportos muito próximos tem problemas de "gestão" de espaço aéreo

o que sugeria era que olhasse para aeroportos, que em vez de duas pistas paralelas, tivessem um pouco mais (sejam elas paralelas, cruzadas, ou o que sejam...) - seguindo o seu raciocínio, levar-se logo a pensar que sã impossíveis de operar

assim de repente ( e é só procurar que ja mais, lembro-me de três aeroportos em que isso acontece (e até funciona) - e o problema, não são a complexidade dos aeroportos em si, mas da área em que estão instalados, em relação a outros aeroportos

- ok, alguém pode dizer que é nos EUA, logo não vale (mas nunca esqueçer que há quem considere que eles estão cerca de 50 anos avançados em relação a nós, e aviação, tem pouco mais de 100 anos... portanto, nestas andanças. alguém anda atrasado...

sugiro que veja
LAX - Los Angeles
http://66.226.83.248/aptdiag/w240/00943.gif
SFO - San Francisco
http://66.226.83.248/aptdiag/FAA/00375AD.gif
DFW - Dallas /Fort Worth
http://66.226.83.248/aptdiag/FAA/06039AD.gif

cump

E disse...

1 - Esses aeroportos não são impossíveis de operar porque o percurso das aeronaves no espaço aéreo terminal é coordenado por uma única entidade (vários controladores na mesma sala/torre). Não é o caso que relatei, com dois aeroportos a servirem vôos internacionais, com orientações e dimensões das pistas que não favorecem os procedimentos de chegada/partida.
2 - Cada aeroporto internacional têm as suas STAR e SID que não entram em conflito com outros procedimentos de chegada/partida de outros aeroportos internacionais na sua periferia. Não estou a ver isso acontecer com Portela/Montijo, Portela/Sintra, Portela/Alverca ou mesmo Portela/Ota. Deve-se à orientação actual ou a proposta para estas localizações.
3 - Quando temos tráfego aéreo reduzido, é possível, estatisticamente, coordenar as partidas/chegadas de aeroportos e aeródromos vizinhos. Mas por exemplo já existem limitações (slots adiados ou cancelados) na operação de vôos em Tires derivado do elevado tráfego aéreo a chegar ao aeroporto internacional de Lisboa.

Argumento que para termos dois aeroportos a operarem vôos internacionais com fluxos de ou superiores a 25 milhões PAX no conjunto, é necessário que estejam suficientemente afastados um dos outros de modo que as STAR/SID não se interfiram mutuamente. Como nota informativa, LAX teve um tráfego anual de passageiros em 2005 de 61.5 milhões, SFO 32.8 milhões e DFW 59.2 milhões PAX. Uma realidade a anos-luz do Novo Aeroporto de Lisboa.

Acho que um aeroporto internacional deve ser colocado para além da periferia da cidade (redução da poluição sonora e do ar) e não concordo em que se invista numa solução "de remendo", mantendo a Portela nas actuais condições e desviando o tráfego remanescente para um aeródromo periférico. A infraestrutura aeroportuária deve ter condições mínimas de segurança e boa eficiência.

Cumps.

Anónimo disse...

eu outra vez... :)
resp:


1- eu julgava que todos os aeródromos civis da zona de Lisboa eram controlados pela mesma "sala", só restando "controlo" de aeródromo (torre) individual, para cada um - os militares tem torre, tem algum controlo dentro das suas áreas, mas é ligação é feita entre as várias áreas... tanto cá, como lá fora

(e não compreendo essa questão de ser aeroporto internacional... avião é avião, seja ele grande ou pequeno, voo nacional ou internacional, desde que cumpra as mesmas regras (VFR ou IFR))

2- uma vez mais nos outros, e cá, hoje, agora, tb acontece... agora se podia estar mais optimizado, já é outra questão - não é dificil ouvir comentários dizendo que "alguns controladores PT's, num desses "grandes" aeroportos internacionais, morria de susto.."

3- todos os exemplos que referi, não basta serem aeroportos grandes complexos e com grandes quantidades de tráfego, como possuem á volta, tantos ou mais aeroportos, e certamente mais complexos que o caso de Lisboa .. (basta ver a baía de São Francisco) - lá funciona, cá , novamente, é uma questão de optimização de espaço aereo

3- Tires não tem sistema de slots implementados... existem atrasos nas entradas/saidas de tires, porque, novamente, aquela tal "sala" única que controla, "todo" o espaço aéreo português, fora das zonas de aeroporto e algumas zonas militares, não permite "mais tráfego" - outra vez ; vamos la.. problema de optimização de espaço aéreo...

eu não estou a dar uma opinião contra ou a favor um novo aeroporto, e muito menos em relação á localização... só afirmo, é que em PT, mesmo que se construa um aeroporto no deserto (e não é no do Sr. Ministro), provavelmente (e por motivos históricos) continuará a haver, atrasos, limitações de tráfego, etc... ou seja... optimização , estudo, planeamento... tudo aquilo que este pais aparentemente carece (alem de aeroportos, tgv's, estádios ou o que quer que seja...)



cump

E disse...

Se tiver um atraso de um vôo internacional na saída da CTR de Tires, mesmo tendo uma SID própria e separada da TMA Lisboa, o que acontece é que o CFMU cancela o vôo. É isso que quero dizer com slots cancelados.

Não sou um "apaixonado" pela Ota. O que acho é que é a melhor opção para desenvolver a região de Lisboa e o país.

Anónimo disse...

ok, em relação ao slot

mas nesse cenário, só "queimava" o slot, por outro motivo qq que não o facto, de estar perto de outro aeroporto, certo?? ;)

como disse, façam o que fizerem e onde o fizerem, se não for bem planeado, vai dar ao mesmo em que está....

basta ver os "novos" corredores VFR de cascais... noutro lado qq (heatrow, LAx, etc..) eles existem sobre a aeroporto e ninguém complica...já cá ... _ _ _ ...

E disse...

Quais são os "novos" corredores? São aqueles que vão serpenteando norte acima até V.F Xira a 1500 pés? E o da costa do Guincho até Peniche? E o da Fonte da Telha-Setúbal? Já lá vai o tempo...

Anónimo disse...

Por ai sim, um pouco mais do mesmo... mudam algumas coisas mas a ideia é a mesma

quem vem de norte, chega a Sobral de Monte Agraço, e só se "Lisboa estiver a aceitar tráfego" é que da directo para cascais, se não linha de costa ou túnel leste..

de resto, pontos com fartura.. ver
http://www.aopa.pt/aip/airac.pdf
pag. 19 á 21 e 25

mas acho que esta frase diz tudo, do que estamos a falar para trás..

"Due to traffic complexity in the area surrounding Lisboa Airport, the vicinity of Cascais Aerodrome and the growth of VFR traffic
into the SW area subjacent to Lisboa TMA and close to Lisboa CTR, it is of the utmost importance the adjustment of VFR traffic
flows in order to avoid the overload of Lisboa Approach Radio frequency"

só para quem ainda não andou la por fora ... :(

E disse...

Se tiveres um "céu" congestionado, a zona de controle de Lisboa começa a dar prioridade aos vôos do aeroporto da Portela (por ser de maior importância, taxas mais altas, mais dinheiro a entrar, vôos internacionais (aí está a diferença €€€), políticas de gestão...) O problema é de controlo aéreo, como se um ramal de acesso a uma autoestrada ficasse entupido.

Anónimo disse...

é, o problema é que por cá o "céu" congestiona-se com 3 aviões...

1ooo ft sobre o cabeço de montachiqe, em VMC, o tráfego para lisboa, nem "sonha" que ele lá esta

ou 2000/3000 ft á vertical da torre, e no espaço entre TO e LDG, em lisboa, dava para um belo "corredor este directo"

enfim, como dizes, politicas de gestão...

leste uma reportagem, á um tempo na TakeOff, sobre um certo biplano azul e a aventura que foi chegar a Santarém?

mudem a localização do aeroporto de lisboa, e os "constrangimentos" vão voltar a surgir