2007-12-16

Nas mãos do Governo


Quando uma fonte governamental afirma estar tudo em aberto em relação à Ota ou Alcochete, isso não quer dizer que o novo aeroporto afinal vai ser em Alcochete, mais precisamente na zona H6 do estudo da CIP, a 20 km Oeste de Alcochete. Indica que a decisão será do governo. Mesmo a Análise a entregar pelo LNEC ao governo não terá nenhuma alínea a reportar que o Aeroporto deve ser feito nesta ou naquela localização.


Os principais pontos de análise feitos pelo LNEC foram vários e aqui se relata algumas das realidades presentes nessa Análise que serviria de suporte à decisão política. Como não há uma matriz assente em pesos que medem a importância de vários critérios, mas um estudo integrado que restringe a análise ao que é mais importante e possível de quantificar, dependerá do Governo a tomada de posição sobre a localização definitiva do Novo Aeroporto.


Conservação da Natureza

Ota têm uma zona lateral rodeada por montados de pequeno a médio porte e um charco alimentado por duas ribeiras. A construção do aeroporto nesta zona obriga a obras de engenharia hidráulica, terraplanagem, destruição de habitats e consolidação dos leitos para a área da 2ºpista. Como todas as obras públicas, têm sempre um impacto ambiental elevado.

Alcochete faz parte integrante de uma Reserva Ecológica, e o Campo de Tiro de Alcochete até ganhou em 2004 um prémio de Valor Ambiental por ter elevada riqueza de espécies cinegéticas. Nada mal para quem argumentava que aquela zona estava cheia de crateras resultante do impacto de bombas lançada pela Força Aérea. A sua destruição seria considerada um crime ambiental pelas Associações de Protecção da Natureza em Portugal, mesmo sendo a opção “mais barata” – à primeira vista.


Acessibilidades

Ota têm grande parte das acessibilidades prontas e / ou em construção. É dos locais onde houve maior reforço e interligação com vários eixos rodoviários na última década. A10, CREL, A1, A13, IC1.

Alcochete falta-lhe reforçar as ligações rodoviárias aos itinerários principais, A10, A12 e A2. Essas ligações não têm estudos de impacto ambiental e como a zona escolhida está rodeada de montado de sobro, os impactos previstos e não reportados no estudo da CIP são elevados.


Gestão do Espaço Aéreo

Ota apresenta restrições médias e alteráveis no espaço aéreo a Norte de Lisboa. A sua operação inviabiliza por motivos de segurança aeronáutica e eficiências das aterragens e descolagens, a operação simultânea com a Portela.

Alcochete levaria ao término do Campo de Tiro de Alcochete, ao deslocamento do Triângulo de Tiro de Vendas Novas e interferência com as operações aéreas da Base Aérea do Montijo, futuro pólo logístico de transporte da F.A.P. que suporta missões militares que inviabilizam operações aéreas comerciais de Linha Aérea (Low Cost e outras). Os custos acrescidos devido a estas implicações não foram contabilizadas mas escondidas do público. A sua operação conjunta com a Portela é possível só numa das pistas que sobrevôa a cidade de Montijo, o que a torna uma opção pouco viável.

A localização de um circuito de espera para os aviões localiza-se regra geral quando possível por cima do mar e perto da costa de modo a que o “dumping” de combustível em caso de emergência leve à menor contaminação do terreno. A insinuação de que o circuito de espera ficaria localizado sobre o Campo de Tiro de Alcochete é muito conveniente para os defensores de Alcochete, que argumentam com base em afirmações falsas de que o C.T.A. iria ficar desactivado na mesma, o que é mentira.


Riscos Naturais

Ota têm dois riachos na zona e é necessário desviar os cursos de água de modo a tornar a zona livre de inundações. Não existem poços de abastecimento de água potável na zona por ser água de má qualidade. A existência de orografia elevada a cerca de 6 milhas náuticas não apresenta problema para as operações aéreas correntes devido à re-orientação das pistas.

A existência de um pequeno monte inviabiliza a operação de aterragem numa orientação entre duas possíveis, numa pista entre duas planeadas, e só em condições de muito baixa visibilidade, sendo possível a aterragem em condições normais de segurança na outra pista. A área foi extensivamente estudada e os relatórios da consultora contratada para fazer o projecto do Novo Aeroporto atesta que existe segurança nas operações aéreas.

Ao contrário do que foi insinuado, nunca houve um acidente devido a nevoeiros na zona da Ota. O que houve foi um acidente com 5 aviões da F.A.P. a mais de 100 km de distância,ao pé de Coimbra, devido a reduzida visibilidade existente numa missão militar de sobrevôo a baixa altitude, o que não acontece em operações civis comerciais de transporte aéreo.

Alcochete têm, ao contrário das informações veiculadas no estudo da CIP, elevada possibilidade de contaminação do aquífero Tejo-Sado, uma das principais razões que levaram ao abandono da solução Rio-Frio em 1999. É o que dá quando se fazem estudos à distância e limitados por imagens cartográficas tiradas do Google Earth.

Nunca foi estudado nesta zona, que engloba o terreno do Aeroporto e áreas de Aproximação e Descolagem, o risco de colisões com aves, embora essa possibilidade exista por ser uma área de nidificação natural de várias espécies – e que levou a ser também uma das razões pelo abandono da localização Rio Frio - de tal modo que entre Junho e Setembro as operações de treino de tiro são suspensas no Campo de Tiro de Alcochete para evitar possíveis colisões com aves ou prejudicar a própria nidificação.

Existe uma pequena albufeira alimentada por um pequeno riacho e a zona têm uma elevada proximidade com os lençóis freáticos pertencentes ao aquífero Tejo-Sado e é uma das zonas mais rentáveis da CELPA na produção de pasta para eucalipto. Os danos económicos por interromper esta exploração não foram contabilizados no estudo da CIP. O risco de contaminação da rede de infraestrutura de abastecimento de água (poços de abastecimento) é um risco que se acontecer, será uma ameaça real à saúde de 800 mil pessoas que residem na Cintura Almada-Montijo, Vendas Novas, Setúbal e Palmela.


Riscos Tecnológicos

A existência de pedreiras a Oeste da zona da Ota, em Alenquer, e Fábricas de Cimento em Alverca-Xira, tornará o transporte de materiais - rocha, brita, cimento de construção do Aeroporto mais barato, mais acessível e com menos riscos para a circulação rodoviária envolvente. A existência de paióis de combustível na zona facilitam e diminuem o o risco no transporte de combustíveis de aviação, um facto muito ignorado e escamoteado pela opinião pública, levando ao absurdo de que isso fosse considerado um grande risco por estarem no alinhamento das pistas a 10 km do aeroporto e insinuando que as aeronaves que descolassem para Norte se manteriam a voar baixinho e logo em direcção a essa zona.

Por ser uma zona que não foi amplamente estudada para se fazer lá um aeroporto, desconhecem-se as implicações de construir um aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete. Devido a ter que se construir mais infraestruturas nesta localização, o risco será maior na fase da construção, muito devido à existência de lencóis freáticos perto da superfície que diminuem a consistência dos solos e levam a maior remoção de terra para consolidação posterior com materias impermeáveis assentes em leito de rocha.


Análise Financeira

Ota é uma opção muito cara, e nas presentes condições financeiras que o país atravessa, investir numa obra pública com um preço que supera 3 mil milhões de euros, só poderá ser entendido como uma opção governamental para estimular o sector das obras públicas nacional.

Seria preferível tal obra não se realizar, mas segundo os entendidos na matéria, Portela é uma opção comercial inviável para este século da aviação comercial e a cidade de Lisboa teria indirectamente mais terrenos para novas residências, espaços comerciais, pólos tecnológicos ou mesmo uma nova cidade universitária na Portela. Seria uma solução onde todos ganhavam - o sector da construção de obras públicas, o turismo Oeste/Centro, empresas tecnológicas que precisassem de investir ou expandir-se em Lisboa.

Alcochete aparenta ser a solução económica mais barata. Contudo, a solução mais barata tende a ser a mais cara a longo prazo, se a rentabilidade do investimento fôr menor nesse período de tempo.

Para aumentar essa rentabilidade, o estudo da CIP pretende que a linha do TGV seja modificada, passando a percorrer as planícies ribatejanas e com isso incapacitando parte de uma das zonas mais férteis da agricultura em Portugal, trazendo com isso uma solução Alcochete + TGV mais económica e mais agressiva do ponto de vista ambiental.

Contudo, o estudo da CIP é fértil em erros de concepção e falha numa análise mais atenta por parte de responsáveis da RAVE. Quando um estudo de transportes ferroviários de alta-velocidade é feito à pressa por duas pessoas que têm responsabilidades académicas e não estão a tempo inteiro, é mais do que esperado que haja muitas inconsistências e erros de planeamento. Mas o mais grave ainda é propôr um projecto de um Novo Aeroporto metendo “ao barulho” o planeamento de uma rede ferroviária de alta-velocidade que custa mais do que 10 Aeroportos da Ota.


Ordenamento do Território

A Ota têm já previsto no plano de desenvolvimento para o território de Lisboa e Vale do Tejo a existência do Aeroporto de modo a potenciar e tornar mais lucrativa a operação logística e empresas ligadas ao turismo na zona Centro e Oeste. A sua localização é beneficiada pela existência de núcleos populacionais de média dimensão o que a torna a solução mais capaz do ponto de vista do país e não só o de Lisboa.

Grande parte da discussão têm sido orientada só para favorecer Lisboa, ou mais concretamente, o Centro de Lisboa, como se isso fosse o grande objectivo para um Aeroporto Internacional. Este deve, acima de tudo, servir o País e não uma cidade. Portanto, uma análise a nível macro de toda a região circundante e às várias capitais de Distrito é um imperativo.

Alcochete, ao contrário da Ota, é uma zona onde não existe quase nada, nenhuma infra-estrutura de saneamento, abastecimento de água, postos de transformação de electricidade, indústrias de construção e instalação. A sua construção obrigaria à instalação de um enorme estaleiro para suporte às operações de construção, o que acarrateria elevados impactes ambientais. A existência de um Aeroporto nesta zona potenciaria a zona de Setúbal, Palmela, Vendas Novas, Alcochete, Cintura Montijo-Almada.

Este é o ponto mais problemático que irá pesar fortemente na decisão política. Todas as outras terão um peso menor porque as consequências de uma decisão desestruturada e alienada da realidade territorial levam à falência do modelo proposto a longo prazo e com isso não há análise custo/benefício que seja credível.


Conclusão

Todas estas informações podem ser verificadas para quem se der ao trabalho de o fazer, consultando as fontes de informação oficiais, indo ao terreno, olhar com espírito crítico as suposições que são lançadas por estudos que são financiados por gente “anónima”, ou mesmo por lobies que têm interesses de promoção da sua região à custa do interesse nacional – é nisto que dá o regionalismo tão apoiado por Menezes, que não passa de um idiota inútil e que infelizmente lidera o meu partido.

Numa questão de importância nacional, não faltam bandidos que se deleitam a propôr a solução de privatização da Portela para quererem ser eles a meter lá a mão ou professores universitários que se metem em grandes cavalgadas para o qual não têm o estofo necessário. Não tenho nenhuma dúvida de que se lhes dessem prestígio e dinheiro, através de cargos públicos ou financiamentos de “estudos” e “projectos” para as suas empresas, calavam-se.

Espero que a decisão que está nas mãos do Governo, seja a favor da Ota. Não por ser "a" Ota, porque não tenho nada a ganhar a título pessoal nem faço "chincana" política só para mostrar que pertenço à oposição. Mas precisamente porque a outra alternativa, Alcochete, é economicamente insustentável, um atentado ambiental, de elevado risco e desestruturada, além de alimentar os ataques da opinião pública
à outra localização, a Ota, com base em demagogias, em pressupostos falsos e deturpação da verdade.

P.S.: As fotos são da nova aeronave Airbus A380 que vai ser o principal "cavalo-de-batalha" das grandes transportadoras de Linha Aérea no Século XXI. O Aeroporto da Portela não têm condições para operar esta Aeronave.

3 comentários:

Anónimo disse...

O post é muito completo só que vai em contra-mão do que o Sol e restante Comunicação Social têm noticiado, que é Alcochete ser melhor em tudo excepto no ambiente. Não me parece que a Ota vá em frente.

Rui Freitas disse...

Caro DC,
Li, reli e compreendi!
Afinal, onde ficará (ou deverá ficar) localizado o novo (necessário?) Aeroporto?
Em Paço de Arcos, não será certamente, pois o espaço já está "ocupado" com construção imobiliária/serviços?
Claro que o estudo do LNEC apenas "indicará" ao governo a localização "possível"... A decisão, é "política" (o que quer dizer, "trocado por miúdos", que será a que mais "convier"!)
Diga-me, por favor, onde será, a ver se ainda consigo comprar uns terrenozitos por aí!

E disse...

Quanto aos terrenos, pergunte ao Menezes. Deve saber mais disso do que eu que não tenho negócios nessa área.