2007-07-02

Oportunistas

Lido o semanário do Expresso, constato que a grande polémica da Ota vai perdendo foco. Encomendam-se mais estudos. Agora também já se pensam em soluções Portela + 2. Será Sintra? Montijo? Alverca? Tires? Todos em conjunto? Na Ota não será certamente. Segundo a lógica de oposição do PSD, não pode ser na Ota porque foi uma decisão política do PS. Ao que parece há interesses do PS que são servidos e por acréscimo no PSD não. Afinal de contas, ou comem todos ou há moral.

Mas haverá moral na política? Não, não há. Na política não há moral, apenas interesses, os interesses comuns a um grupo/organização/partido. É este o nível que está reduzida a política portuguesa, movida pela opinião pública, reformas chorudas, cargos executivos em administrações públicas e defesa de interesses pessoais aliados a grandes corporações. A nível pessoal, não gosto do papel redutor que está a ser colocada a política no actual rumo do PSD. Como militante, quero mais e melhor do que a oposição têm sido capaz. Porque quando se contesta uma decisão política, ataca-se a sua lógica, e não quem fica a ganhar com isso. 1º erro.

Passados 8 anos após uma decisão política, estamos numa encruzilhada. Faz-se ou não um novo aeroporto? Sim. Mas aonde? Esta parece ser a grande questão para a oposição! É que agora, com a entrada em cena de tantos autarcas e apoiantes a defender um aeroporto no seu concelho, ainda vamos ter 4 ou 5 aeroportos a servir Lisboa. Fica bem servida, sim senhor! Mas não faz sentido. A sério!


Berlim é um exemplo paradigmático, que vai fechar dois aeroportos na cidade que estavam sob intensa pressão urbanística, com reclamações de associações de moradores devido ao ruído e poluição do ar causada pela sua operação, e acaba por expandir um aeroporto mais afastado para rentabilizar as estruturas aeroportuárias. Foi uma decisão envolta em polémica (1) que levou quase 15 anos a ser tomada, mas os alemães tomaram-na e já avançaram com a sua construção (2).

Mas aqui na Capital, temos que ter vários aeroportos, mesmo que haja estudos que indicam a inviabilidade económica dessa solução. E sob pressão das associações hoteleiras que juram a pés juntas que o Turismo na Capital vai sofrer um tremendo impacto embora os estudos, anteriormente confidenciais e não divulgados à opinião pública, promovidos por estas associações e recentemente publicitados no site da NAER, provam o contrário, já que é possível manter o aumento de fluxos de turistas para a Capital, apostando num serviço de transporte com qualidade. No mínimo, um grande barrete que enfiaram aos portugueses.

Mais tarde, os cidadãos – essa palavra muito conveniente que aparece como por magia na boca de ex-militantes descontentes com o desinteresse dado pelo seu ex-partido na sua pessoa – serão chamados a intervir para sustentar a posição dos políticos. Que paguem a factura no final, já que o financiamento dos aeroportos, como serviço público, se deficitário para o concessionário, é assegurado pelo Estado. Posição essa que é assumida pelos principais políticos que concorrem à capital. Contudo, parecem ser insensíveis ao risco de termos tráfego aéreo a sobrevoar a Capital, com a poluição do ar e sonora que isso acarreta. A nível europeu têm-se colocado cada vez mais restrições devido ao ruído causado pelas aeronaves. No PSD e em outros partidos, defende-se uma política de risco para a saúde pública mas de maior proximidade à capital, só para fazer oposição. 2º erro.


Esta classe política bulldogiana nunca foi boa a tomar decisões, tirando casos raríssimos e que se davam mal com os partidos. Especialmente em dossiers técnicos que nos levam a pesar as vantagens e benefícios. Que se faça outsourcing, pois então. É imperativo para esta classe política pedir mais estudos, se os anteriores não forem do agrado ou então menosprezar tecnicamente uma instituição de engenharia de importância nacional como o LNEC só porque estão em desvantagem, só porque se dão ao luxo de serem políticos. É assim a política em Portugal.

Mas quem paga a factura final? Todos nós. Quem toma a decisão? São os políticos, eleitos para os cargos. Será que a sua eleição conta politicamente para alguma coisa? Se formos irresponsáveis, poderemos dizer que não. Mas eu digo que sim. Arrisco-me a dizer que se o PS ganhar as próximas eleições em 2009, haverá uma legitimação política da decisão da Ota. A Ota foi uma bandeira política do PS. Têm a legitimidade política - e governativa neste momento - para o fazer. Também poderemos considerar o que os outros governos fizeram como alternativa. O anterior governo de Durão Barroso estabeleceu uma directiva política em que se iria acabar com as listas de espera nos hospitais, e até lá não se iria construir mais nenhum aeroporto. Politicamente um bom argumento. Algo demagógico. Contudo, dever-se-ia ter avançado com uma alternativa. Não se fez. 3º erro.

Mas realmente de política não se falou quase nada. Onde deveria estar o debate sobre a política aeroportuária? Na renovação nacional da servidão aeroportuária, na reorganização do controlo de tráfego aéreo a nível europeu – uma questão até agora NUNCA abordada mas que traz impactos na soberania do espaço aéreo nacional – e no avanço para um modelo de concessão e privatização da ANA. Isso é que devia ter marcado a agenda política. Mas o que realmente importou para a nossa classe política era o local do novo aeroporto. Parece-me um bocado mesquinho e redutor de um papel nacional que um partido deve ter. 4º erro.



Um lider e a sua equipa deve “inovar” politicamente e marcar “a alternativa”, não “as inúmeras alternativas”. E quando critico esta direcção, não critico o partido e os seus ideais, mas o seu rumo actual. Critico quando vejo que o seu comportamento acaba por ser mais “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. Com tantas propostas avançadas pela direcção do PSD, antes defendendo Rio Frio, depois Poceirão, a seguir Alcochete e porque não agora Portela + 1, acaba-se por não se defender uma alternativa em concreto. Esta não devia ter entrado no “jogo da localização” mas da política que está acima disso. É verdade que ter o papel de oposição na política não é “gratificante” por não se poder avançar com as suas propostas reformadoras da sociedade. Mas isso não implica que se deva tornar o partido num autêntico camaleão, dizendo “Ota não porque sim”. Assim não porque se peca pela falta de credibilidade ao assumir uma política de ocasião.

Credibilidade essa que é posta em causa quando se sabe no fim de que os principais académicos defensores de uma alternativa à Ota foram usados pela Associação de Desenvolvimento Ferroviário para publicitarem estudos e artigos de opinião contra a Ota numa estratégia de pura decepção para se desviar a atenção da opinião pública do projecto TGV e que vai custar mais do dobro que a solução da Ota. E é assim que os lobbies influenciam um partido através da manipulação da comunicação social . 5º erro.

Tenho a impressão que quando dizem que temos o que merecemos, é totalmente verdade. Temos os políticos, o governo e a oposição que merecemos. Falamos de combate à corrupção mas não nos coibimos de adiar esse projecto global e de extrema importância social, face a eleições em Lisboa. Se é assim quando se começa a falar de política em Portugal, com licença que eu vou ali ver a bola que não tenho pachorra para discursos oportunistas.


1 - Berlin - Branderburg Airport Delayed - uma crónica que lembra a portuguesa.

2- BBI underway - a importância de ser a capital e não uma cidade de província.

2 comentários:

O Cu de Oeiras disse...

Caro DC,
No post "Marcar a Alternativa" não temos hipoteses de comentar?

E disse...

ja vou mudar.