2007-07-09

PIQUE

Sê quem tu quiseres,
Têns o mundo inteiro à tua espera
Deixa o mundo girar para o lado que quer,
Não o podes parar nem tens nada a perder,
Estás de passagem, só de passagem, para outro lugar.

Pólo Norte


PIQUE – Paixão, Inteligência, QUestionamento e Energia - é o que falta ao PSD neste momento para ganhar Lisboa. É um acrónimo muito utilizado no Brasil para exemplificar o estado de alma de uma pessoa. Se está desorientada e cansada, está sem “pique”. Se altamente motivada e com energia, têm “pique”. Ora, isto é coisa que Fernando Negrão não têm por mais gritos e gaffes que dê em comícios e entrevistas, ao contrário de Carmona Rodrigues que se mantém à sua frente mesmo sem contar com o apoio da máquina partidária. Por incrível que pareça, este têm-na. Imagino como seria se Fernando Negrão se candidatasse sem o apoio do PSD… Catastrófico!

Fico surpreendido com a actual performance de Carmona Rodrigues. Será que o voto em Carmona por militantes e simpatizantes do PSD em Lisboa constituirá um autêntico “cartão-vermelho” à decisão de Marques Mendes? Invariavelmente, o PSD de Lisboa sai de rastos depois do próximo fim-de-semana, já que tudo aponta para que o nº de vereadores caia, grosso modo, para metade do nº anterior de eleitos. O que coloca Sérgio Lipari e António Prôa de fora.

Lembro-me que Sérgio Lipari teve uma atitude corajosa nestes dois últimos anos de mandato. Avançou com as salas de injecção assistida, as “salas de chuto”, colocando Lisboa no Séc. XXI em termos de cuidados médicos humanitários. Sempre considerei que virar as costas e seguir a via de criminalização dos toxicodependentes revela o pior que há no ser humano – a falta de compaixão e um desprezo humano por aqueles que pouco mais têm do que a vida de miséria que a droga lhes causa, sem falar da indiferença aos deficientes, idosos abandonados, os sem-abrigo, prostitutas e pedintes.

Maria José Nogueira Pinto e agora Telmo Correia foram e são opositores ideológicos das “salas de chuto”. Como verdadeiros “Torquemada” que são, respondem que a estratégia seguida pelo PSD em Lisboa é errada, mas na prática a repressão e o esquecimento que pretendem vetar os toxicodependentes não resolve o problema da droga, mas agudiza-o, como comprovam os mais recentes relatórios das Nações Unidas sobre os problemas sociais da marginalidade na sociedade.

Contudo, Sérgio foi pragmático q.b. e não olhou a meios para que se vencesse a resistência inicial a esta medida, possibilitando assim um acompanhamento próximo de uma franja marginal da nossa sociedade e aumentando em muito as hipóteses da sua futura reintegração. Isto é que é ser genuinamene social-democrata, marcando a diferença entre ser “politicamente correcto” e fazer o bem como político.

O facto de Lipari não ter sido colocado como cabeça-de-lista em Lisboa, ou Marina Ferreira e mesmo António Prôa, causa-me alguma perplexidade e desapontamento, por estes serem o que estão mais a par do que se passava na Câmara, e só se explica devido a jogos partidários internos que vêm com maus-olhos o seu desempenho anterior e que poderia vir a ser explorada pela oposição como “arma de arremesso”.

Mas na verdade, toda a gente têm “telhados de vidro” e os eleitores lisboetas deparam-se com um “cast” de político-arguidos ou arguidos-autarcas, conforme foram constituídos arguidos relacionado com o desempenho do seu cargo político ou antes de virem a ser autarcas.

Acho mal que um político, qualquer que ele seja e aonde ele esteja, assuma um novo cargo político e não cumpra o seu mandato até ao fim se tinha condições para o fazer. Ainda para mais quando se acumula com o cargo de deputado, já que não concordo com a ideia de haver “turbo-políticos” ou “políticos-para-toda-obra”. Os Lisboetas merecem que os seus eleitos tenham total disponibilidade para resolver o grave problema financeiro que sufoca a sua cidade.

Será que Fernando Negrão (arguido-autarca) ou mesmo Telmo Correia (político-arguido) se chegar a ser eleito, abdicam do lugar no seu grupo parlamentar? Não acredito. Aliás, a mais-valia que Fernando Negrão podia trazer ao PSD era precisamente liderar o grupo parlamentar até findar o trabalho em volta do novo pacote legislativo de combate à corrupção, adiado devido às eleições intercalares em Lisboa.

Ser um político deve ser uma actividade nobre, de compromisso com o serviço público e não o conluir com tácticas espúrias da direcção de um partido. Na verdade, há muita influência, “original” para dizer o mínimo, de Marques Mendes (político-arguido) em Lisboa. A escolha de Carmona Rodrigues (político-arguido) e a aprovação da lista para as anteriores autárquicas foi aprovada por Mendes e pela distrital comandada por António Preto (político-arguido e acusado). E muito fica por dizer em relação a este assunto.

Quem têm definitivamente “pique” é Fernando Seara (não é político-arguido), à frente da C.M.Sintra. Desde que está na sua liderança, Sintra desenvolveu-se e muito. Têm vindo a corrigir os erros crassos, a falta de planeamento e de visão da anterior autarca socialista (política-arguida, acusada e condenada) e o seu séquito cor-de-rosa. Melhores estradas, avanço significativo do Cacém-Polis, inauguração de novos equipamentos culturais como o Museu Ciência Viva, política pró-activa na melhoria do saneamento, abastecimento de água, investimento em energias renováveis no Parque Urbano de S.Marcos, etc. Sintra promete vir a ser um pólo de elevado potencial de desenvolvimento da área metropolitana de Lisboa.

Também, quem têm “pique” é António Capucho (
não é político-arguido, mas pensava que já o era), autarca da C.M.Cascais. Com o afastamento de Judas (político-arguido e acusado) e dos seus “muchachos”, Cascais têm um novo fulgor. Criou-se a Agência ADN Cascais para desenvolver o espírito empresarial entre os jovens cascalenses, avança-se com a extensão do passeio marítimo e arranjo da área litoral votada anteriormente ao abandono, novas áreas verdes e de estacionamento, de lazer e cultura, organização de eventos desportivos internacionais como o ISAF2007 na baía de Cascais, modernização da Marina, renovação urbanística do centro da vila, etc.

“Bons exemplos” não faltam pelo país fora, uma verdadeira mostra da “garra” que os autarcas sociais-democratas têm. Aqui vão os “Top 7” que têm mais PIQUE:

1. Rui Rio, Porto. É político-arguido por ter defendido os interesses da Invicta ao ter metido o Pinto da Costa do FCP e aquela gaja do M.Cultura no lugar deles.
2. Fernando Seara, Sintra. Não é
político-arguido. Que eu saiba.
3. António Capucho, Cascais.
Não é político-arguido. Pelo que sei, ainda.
4. Moita Flores, Santarém. Por desancar a anterior gestão autárquica socialista naquele Concelho. Não é arguido. Por enquanto.
5. Carlos Encarnação, Coimbra. Pela luta contra o projecto governamental de co-incineração em Sousel. Por incrível que pareça, não é arguido.
6. Mata-Cáceres, Portalegre. Por mesmo sendo do interior de Portugal, é o Concelho com a melhor qualidade de vida. Não é arguido. Portalegre fica muito longe de Lisboa.
7. Isabel Damasceno, Leiria. Uma das promotoras do desenvolvimento do Litoral-Oeste. Foi mas já não é arguida. Gosta de futebol e é amiga de Valentim Loureiro, ex-social-democrata e político-arguido em Gondomar que bate aos pontos, em matéria de processos-crimes, Isaltino Morais, também ex-social-democrata e também político-arguido em Oeiras e já acusado.

Vá lá que Portugal não é só Lisboa, senão a política portuguesa era mesmo uma grande chatice.

1 comentário:

E disse...

Retracção: Afirmei que Telmo Correia era arguido. Este post tinha o propósito de mostrar que um político ser arguido ou não acaba por não ser relevante para a sua continuidade política, com alguma dose de humor e cinismo à mistura.

Contudo, após contacto com uma colega do MPublico, afirmou-me que as investigações sobre o caso Portucale não tinham levado o MP a indiciar Telmo Correia. Fica desde já o reconhecimento do meu erro e as minhas desculpas (gostaria de ver o mesmo tipo de comportamento partir de outras pessoas envolvidas na política, ter a capacidade de reconhecerem os seus erros).