"Lisboa Positiva" é assim que se chama a campanha de Carreiras. Lembra-me a campanha da Galp, na altura liderada por António Mexia, a “Energia Positiva”. Espero que não pague direitos de autor. Mas é interessante um movimento de candidatura ir buscar campanhas de marketing de empresas privadas que tiveram sucesso. Não será a política, hoje em dia, um jogo de marketing mais sofisticado?
Esta 5º feira foi o dia escolhido para a apresentação da candidatura de Carlos Carreiras. Mas quem é Carlos Carreiras? Actual vice-presidente da C.M. Cascais, com o pelouro do PDM, ambiente, urbanismo e juventude, entre outras competências, também é o presidente da iniciativa DNACascais, uma empresa participada pela C.M.Cascais que pôs este concelho no mapa global do empreendorismo. Também é gestor profissional, e um militante veterano do PSD, desde os tempo da Jota.
Das críticas que se pode fazer a Carreiras, constato que grande parte delas têm como "pano de fundo" o simples facto de ser competente e acima de tudo um profissional, sem necessidade de viver da política, o que o torna dificilmente manipulável nos tempos que correm. E se calhar, é isto mesmo que o torna o special one.
Na Sala Roma do Altis, vão preparando o show. Dou dois dedos de conversa ao director da apresentação, também ele de Cascais. Carreiras já chegou a algum tempo, e vai esperar mais um pouco. São 21:15 e os militantes continuam a chegar. A esta altura, entre dois copos de scotch e um café olho à minha volta e reconheço caras novas e outras antigas que põem a conversa em dia.
Pelas 21:30 começamos a entrar e Carreiras presta-se ao papel de anfitrião, cumprimentando um a um todos os que entram na sala. Agradável surpresa, a candidatura elaborou um programa, distribuído em folhetos, e um vídeo inaugural para contextualizar a candidatura. Coisa que a outra candidatura não fez, nem uma nem outra.
Reparo na palavra “cidadão”, repetida. É clara a mensagem. A campanha não é virada só para os militantes e para o próprio partido. Assume-se como tendo contas a apresentar do que quer fazer a todos os cidadãos do distrito de Lisboa. Não é uma campanha hermética, escondida, fechada. Têm uma missão que ultrapassa os meros interesses partidários. Não quer só ganhar, quer ganhar e merecer por ganhar.
A equipa de Carreiras apresenta ter uma boa organização, e o programa revela ser estruturado, sólido e mostra inteligência. Mas não previu a enchente de pessoas. O resultado foi acabarmos por ter vários militantes que ficaram de pé, a assistir, durante uma hora.
O mandatário avança. Arlindo de Carvalho, apoiante de Menezes, está presente. Diz bem de Carrreiras. Que “nunca fez inimigos na política”. Que sempre soube separar os conceitos de “adversário político” e “inimigo pessoal”. Difícil de acreditar nos tempos que correm, mas percebo porquê. Carreiras sempre colocou a sua profissão em primeiro lugar, como Cavaco Silva. Um “não-político”? Talvez. Um verdadeiro político, diferente dos que usam a política para auto-promoção? É provável. Muito provável.
Lisboa é a maior distrital do país, com 2 milhões de habitantes, grande parte deles potenciais votantes. Dirigir uma distrital em Lisboa, é uma tarefa de enorme responsabilidade e um cargo de elevada visibilidade. Qual o melhor perfil para um lugar desta natureza? Penso que Carreiras terá menos dificuldade que a Helena nesta posição. Está muito menos fragilizado e não têm o seu nome envolvido em quaisquer processos em investigação. É um outsider das confusões que desabaram a Câmara de Lisboa.
Carreiras avança. Fala bastante. Um candidato a líder com um humor especial. É uma primeira, para mim. A terceira, para ele, mas desta vez à Distrital. Diz que o país “olha muito para Lisboa”. Que o que se passa na capital, têm reflexos pelo país fora. Quem me dera que assim não fosse. Sempre soube estar nas empresas e participar na política. E afirma que estas eleições vão ser as mais importantes. As Autárquicas, as Europeias, as Legislativas. As campanhas políticas vão com certeza desgastar a máquina partidária.
Consciente disso, apela à mobilização dos militantes. Que um partido não pode ser só o líder a falar. Promete uma Lisboa leal à Direcção do partido, mas autónoma. Autónoma q.b. Afirma que não é um político puro. Mas é democrata. Anteriormente candidatou-se duas vezes. Esta é a 3º vez. Mas não insulta os seus adversários. Nem os anteriores, nem os presentes.
“Só se perde quando se desiste!”, diz. É o que personifica os verdadeiros sociais-democratas. Relembra que o PSD sempre foi constituído pelos melhores cidadãos, honrados, sérios, trabalhadores, aqueles que estavam verdadeiramente aptos para exercer um cargo de confiança, de serviço público. E isso é o que o PSD deve voltar a ser.
Vê o voto do cidadão como um “contrato de confiança”. Confiança no candidato mas que não lhe dá o direito de fazer tudo o que quiser. Não é um “cheque em branco”. Ganhar não é tudo. O que realmente importa é o que vai acontecer depois. Senão, a credibilidade, a “sustentabilidade política” do partido é afectada.
Não vai falar de PINs, de PUKs, de Quotas. Não vai ofender os seus adversários. Tenciona agregar os militantes, e que a altura para tal chegou. Por isso, quer que todas as secções sejam mais activas, vivas. Que as forças políticas que representam o PSD sigam um caminho onde outros também queiram percorrer, com valores, princípios e respeito democrático. Se não nos respeitarmos, quem é que nos vai respeitar?
Quer um PSD vivo e saudável no distrito de Lisboa. Pretende unir e respeitar o maior património do PSD, os seus militantes. E que quer virar a página à forma de como a política é vista, sempre de uma forma negativa. Numa reflexão sobre o pelouro de urbanismo de Cascais, sob a sua responsabilidade, afirma que “Na maior parte das vezes, ser político não dá currículo … dá cadastro!” Imagino o que se passa por Cascais.
Pretende ir buscar os Homens bons do concelho, para que representem com dignidade o PSD. Quer tornar um verdadeiro acto de cidadania o facto de uma pessoa militar num partido. Pede que se debata verdadeira política, e não boatos, mentiras, insinuações. Quer ajudar os homens e mulheres que deram a cara pelo PSD, em autarquias, assembleias, em municípios, em freguesias, e que – nas palavras dele – não foram devidamente apoiados.
Quer ter os futuros autarcas bem preparados e que sejam capazes de prestar um bom serviço aos seus concidadãos. Quer quantidade - número de autarcas eleitos - e qualidade - para aguentar o barco e não deixar que casos como o de Lisboa aconteçam outra vez. Não quer autarcas pára-quedistas. Eu também gostaria que os deputados também não o fossem. Mas acho isso impossível de acontecer.
Quer tornar realidade um sonho, o de tornar o distrito de Lisboa como o mais competitivo da Península Ibérica. Com projectos, com boas estratégias de desenvolvimento. Quer ganhar, mas com um propósito, para que se saiba porque é que o PSD quer governar.
A organização esmerou-se. Carreiras bebe um copo de água. Este não está vazio. Já lá vai meia-hora e os presentes já mostram sinais de cansaço.
Foca a sua candidatura em 4 eixos de desenvolvimento para o distrito de Lisboa. Melhor coesão social. Mais sustentabilidade ambiental. Maior mobilidade e transportes. Sistema de Governo em democracia participada, onde os seus eleitos (autarcas, deputados) têm uma relação mais próxima com os seus cidadãos.
Acusa o PS de grande insensibilidade social, e que o PSD deve ser justamente o contrário. Afirma que a sua palavra, e de cada um de nós, deve ser o nosso atributo mais valioso.
Acima disto tudo, gostei mais de ouvir isto: “Passou o tempo do PSD de seguir a voz do dono. Todos são chamados a participar na vida do partido.” E termina, felizmente, pelas 22:35, afirmando que é só mais um militante como os outros, do que outra coisa qualquer. A sala vibra!
Posso, com toda a certeza, afirmar isto: Nessa hora que passou, Carlos Carreiras contribuiu mais pela auto-estima e prestígio interno do PSD do que os últimos dois anos de Helena Lopes da Costa como deputada na bancada parlamentar. Dá que pensar!