2007-10-23

Distrital de Lisboa I

Hoje aproveitei estar a passar por Lisboa e dei um saltinho à Junqueira, onde fica a Distrital de Lisboa para ouvir a Helena Lopes da Costa.

Entrei na sala, preparada para o evento, algo apertada para as cerca de 45 pessoas metidas lá dentro. As paredes encontravam-se com infiltrações e a precisarem de uma nova pintura. A residência já é antiga, as janelas mal fecham e nas traseiras temos um quintal abandonado. A Distrital do PSD está a precisar de obras.

Vejo pessoas bem vestidas mas a maior parte são reformados - os que chegaram mais cedo - e um ou dois militantes jovens, de bairros sociais. A média das idades ronda os 50 anos. Sinto-me um puto lá dentro a olhar para um circo. A fera entra, sorridente. Aplausos e o hino do PSD, "Paz, Pão, Povo e Liberdade" volta a tocar em altos decibéis. Algo caduco, digo isto em off aqui entre nós, mas continua a ser o hit preferido da maioria dos presentes.

Escrevo pacientemente o que pretendo que um candidato à distrital do PSD assuma e lute por isso:

1) Proximidade entre os militantes e simpatizantes e os deputados do PSD. Actualmente essa proximidade não existe. Os deputados são eleitos, mas deixa de haver contacto à posteriori.
2) Suporte aos Autarcas do PSD na Área Metropolitana de Lisboa em coordenação de matérias políticas que sejam de natureza inter-municipal. Actualmente, é cada um por si a puxar a brasa à sua sardinha.

Helena fala. O público escuta e aplaude quando o parágrafo chega ao fim. Martins da Cruz é o seu mandatário na candidatura à Distrital de Lisboa, mas este não se encontra presente por motivos profissionais. Não interessa. Também, esta gente não veio para o ver falar.

Promete promete uma grande mudança na Distrital de Lisboa. Assume a divergência com as orientações da anterior Distrital e Direcção Nacional. Que as críticas directas foram feitas nos locais apropriados, questionando os "métodos e opções estratégicas do PSD". Quer voltar às vitórias. Lembra a derrota de Lisboa. E desvaloriza o papel da anterior Direcção nas últimas eleições autárquicas, onde a reeleição se deveu mais ao trabalho feito pelos autarcas do PSD do que a própria campanha. 2 anos depois, é fácil dizer isto, especialmente na situação aonde o PSD se encontra.

Quer cursos de formação para os militantes. Mas quem serão os professores? Quer mais actividades do Gabinete de Estudo. Mas será que o Pedro Lynce quer voltar às lides partidárias?

Insurge-se contra as filiações sem critério - lembra-me as confusões que houve em Algés no tempo do Amaral Lopes, da expulsão dos militantes do PSD que concorreram nas listas do Isaltino - Algés e Oeiras outra vez, e das guerras internas que resultaram num show muito hardcore. A política não é para meninos.

Não se arrepende de ter feito o que fez, da exposição na praça pública que houve da vida interna do partido. Fez o que teve que fazer para ganhar, e faria tudo outra vez da mesma maneira.

Critica "a outra candidatura", critica aqueles que foram "os rostos da derrota" em Lisboa, de se aliarem com o mesmo candidato com quem se aliou no assalto ao poder da Distrital de Lisboa à cerca de 1 ano. Falhou a Mesa por 200 votos nessa altura. Será que faz o pleno, agora?

O objectivo da sua campanha é o de ganhar a confiança para ganhar em Lisboa. Pretende sarar as feridas internas do PSD, para unir o partido. Mas só se ganhar a Distrital. Não disse o que faria num cenário de derrota. Nem o deve fazer. Assumir a possibilidade de derrota quebra o espírito de entourage.

Diz que é militante há cerca de 30 anos. Eu não duvido disso. Diz que se habituou sempre a ganhar. E aqui vai o soundbite desta apresentação de candidatura:

"Quero vitórias eleitorais. Não quero vitórias morais."

É preciso ter muita coragem e confiança numa vitória para afirmar isto. É de facto uma afirmação muito churchilliana. Mas isto não é a Inglaterra e não estamos em plena 2º guerra mundial.

Quer um partido orgulhoso da sua causa reformista, capaz de pensar, reflectir e produzir pensamento político. Provavelmente quer dar espaço a que surjam novos intelectuais e que ocupem o espaço pensante das actuais elites. Pretende voltar às bases, apelar à inclusão, desenvolver espaços de reflexão e debate nas concelhias. Pretende levar a comissão distrital de Lisboa a todas as secções de militantes. Promover um "Fórum Autárquico". E coloca a fasquia bem alto. Só fica se ganhar a C.M.Lisboa. Também, não estou a ver a Helena continuar se não vencer essa batalha.

Quer mais mandatos de vereação e alcançar 5 câmaras do PSD na área metropolitana de Lisboa. Se Oeiras passar para o PSD até é uma grande ajuda. Diz que não contem com ela para "ajustes de contas" ou "pequenas vinganças". Acredito que ela, por si, dá conta do recado.

Promete que serão os militantes a decidir a aprovação das listas dos deputados pelo Distrito de Lisboa, além do dever de estes lhes prestarem contas. Eu não aceitaria menos do que isto. É por isso que o que temos hoje em dia se chama Democracia Representativa.

Depois de meia-hora de discurso, sou um dos primeiros a abandonar a cena de cumprimentos. Vêem-me à memória o filme "O Padrinho II". Os corredores estão cheios. Uns a entrar, outros a sair.

A Jota de Algés grita palavras de apoio, no fundo do corredor. Na saída, reparo que o tecto do Hall de entrada está desfeito, esventrado. A distrital de Lisboa está mesmo a precisar de obras.

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