2007-11-05

Resolução

Um amigo de longa data da minha família veio a Portugal. Jack, nome fictício, é inglês. Para comemorar a sua passagem, os seus amigos fizeram uma festa onde todos os seus conhecidos, mais próximos, estiveram presentes. É uma festa de despedida.

Jack está bastante magro. Mal consegue caminhar. Há algum tempo contraiu Mesotelioma, uma forma de cancro do pulmão, devido a exposição ao Amianto. Trabalhou durante décadas num edifício onde se usava Amianto como revestimento de tecto. A segurança social do Reino Unido paga-lhe todas as despesas médicas.

Há algum tempo que a sua filha meteu licença com vencimento pago pela seguradora da empresa onde trabalha, em Bruxelas, para apoiar Jack, nos últimos meses de vida que lhe restam. Jack quer morrer em casa junto dos seus e não num hospital.

Todas as noites, Jack sofre. Têm que dormir numa cama especial. Conta os tormentos e a dificuldade que passa todos os dias. Carlos, nome fictício, é médico. E um amigo. Compreende-o. Sabe que Jack vai passar muito mal nos seus últimos dias. A morte vêm por asfixia ou sufocamento, quando os pulmões deixam de trabalhar. É uma das mortes mais dolorosas que uma pessoa pode ter.

Jack veio despedir-se dos seus amigos. A sua intenção é muito clara. Irá pôr fim ao seu sofrimento, num país onde a eutanásia é legal. A morte faz parte da sua vida e da vida dos seus. Não têm complexos em partilhá-la com os que lhe são mais próximos.

Uma colega de trabalho disse-me que na vida, resolve-se tudo, excepto a morte. Mas Jack conseguiu resolver a última etapa da sua vida. Adeus, Jack.